quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Resultado da triste desigualdade social




"Crianças de favelas de áreas ricas vão pior na escola, indica estudo
da BBC Brasil

Crianças que estudam em favelas de bairros ricos no Rio têm desempenho pior na escola do que aquelas que vivem em favelas situadas em bairros que destoam menos da sua realidade social, indica um estudo de pesquisadores cariocas.
O trabalho, coordenado por Luiz César Queiroz Ribeiro, do IPPUR (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional), da UFRJ (Universidade Federal do Rio), e Creso Franco, do Departamento de Educação da PUC-RJ, será publicado na revista da Cepal (Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina).
Os autores mostram no estudo que os riscos de reprovação e evasão escolar aumentam quando a criança mora numa favela localizada em bairro abastado, não só em relação às crianças que não estão em favelas, como em relação às que moram em favelas de bairros populares.
"Não só morar na favela é uma desvantagem (no desempenho escolar), como morar numa favela na parte rica da cidade é uma desvantagem ainda maior", afirma Luiz César Ribeiro, que também dirige o Observatório das Metrópoles, centro de estudos ligado à UFRJ e voltado para os impactos da desigualdade social.
"O resultado é surpreendente porque a localização [de uma favela] em uma área rica é valorizada por estar associada com determinadas vantagens, como acesso a emprego e renda, acesso a benefícios urbanos, etc", diz o pesquisador. "O que é uma vantagem, no caso da escolaridade, parece ser uma desvantagem", conclui.
No caso da evasão escolar, os dados analisados pelos pesquisadores indicam que o risco de moradores de favelas situadas no entorno de regiões abastadas e de bairros populares são, respectivamente, 74% e 57% maiores do que o risco de evasão para quem não mora na favela.
Ribeiro, Franco e Fátima Alves, pesquisadora da UFRJ que também participou do trabalho, analisaram dados do Censo de 2000 relativos a crianças e jovens de 7 a 17 anos, com o objetivo de avaliar o risco de atraso escolar para alunos de 4ª a 8ª séries em função de "atributos individuais, condições sócio-educativas familiares e do contexto social da localização residencial".
De acordo com Ribeiro, a influência do contexto socioeconômico no desempenho das crianças já é conhecida, mas este é o primeiro trabalho que se volta para a importância do bairro nesse contexto, em vez do tradicional enfoque na família.
Pesquisa
Foram analisados gênero, cor, renda média, escolaridade da mãe, localização da favela (entorno popular ou abastado) na defasagem idade/série e na evasão escolar. Os pesquisadores utilizaram uma escala de 0 a 1. "Quanto mais próximo de 1, mais explica o impacto. Quanto menor de 1, maior a proteção", explica Ribeiro.
Um dos modelos propostos para alunos de 8ª série mostra que um menino negro tem 0,26 mais chances de estar defasado em um ano na escola do que um aluno branco que não mora na favela.
Quando se analisou o peso de morar numa favela de bairro popular no risco de uma criança estar atrasada na escola, o resultado foi 1,47 (ou seja, uma criança que mora nessa favela tem 47% mais chance de repetir de ano); quando se analisou o impacto de morar numa favela de área rica, o índice subiu para 1,59.
"Isso significa que o risco para jovens moradores em favelas próximas a bairros abastados e a vizinhas a bairros populares é, respectivamente, 59% e 47% maior do que o risco de jovens moradores fora de favelas", diz o estudo.
Hipóteses
Uma das hipóteses cogitadas no trabalho se baseia na constatação de que as escolas públicas de bairros abastados são quase que exclusivamente freqüentadas por crianças pobres, que moram nas favelas da região, já que as famílias de fora da favela tendem a enviar seus filhos para colégios particulares.
"O mundo social da criança fica pouco diversificado, pouco estimulante", diz o pesquisador. Além disso, o aluno fica mais sujeito aos apelos do consumo que o rodeia e mais exposto a oportunidades de trabalho, que parecem mais atraentes do que a escola. "À medida que [a escola pública de área rica] proporciona o acesso ao consumo ostensivo, acaba estimulando o jovem a buscar muito precocemente esse consumo."
Por outro lado, crianças que moram em bairros de entornos populares tendem a encontrar nas escolas públicas que freqüentam colegas de classe média pobre, que moram fora da favela. Esse contato, segundo Ribeiro, parece ser saudável para as crianças.
Como possível solução, o pesquisador propõe atrair a classe média para áreas hoje só freqüentadas pela população pobre e criar um sistema de "vales" que permita que as famílias que moram em favelas possam colocar seus filhos em escolas fora da sua comunidade imediata. Ribeiro lembra que os serviços sociais tendem a melhorar nos lugares onde a classe média está presente.
Os pesquisadores vão conduzir estudos semelhantes em São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Natal e Goiânia.
"

Mais uma triste constatação da desigualdade social de nosso, país.
O estudante pobre que mora em favelas na zona sul ,tem desempenho pior do que aquele que mora e estuda nos bairros mais pobres.
Esse jovem vive uma realidade diferente, ele vê todos os dias "carrões" passando na sua frente, jovens da sua idade, ricos, com o tênis, a mochila e roupa da moda. Constata a todo o instante o poder da sociedade capitalista, o consumo, o dinheiro...
E ele sonha e deseja tudo aquilo também.
Para quem não tem nada, estudar acaba se tornando uma perda de tempo... Pois o tempo não pára, e ganhar dinheiro para ter as coisas torna-se algo indispensável.
Essa desigualdade social que acontece no mundo todo, é uma realidade. Infelizmente, a burguesia prefere fechar os olhos, pois isso não os afeta diretamente....
Só os afeta , quando têm seus carros roubados, são sequestrados, sofrem algum tipo de violência... Mas aí também isso não é problemas deles... Jogam a culpa toda para o governo, e muitas vezes têm pensamentos preconceituosos contra qualquer pessoa de classe pobre, principalmente se for morador de favela...
Creio que essa desigualdade, concentração de renda, é um problema nosso...
Claro que o governo tem muita responsabilidade sobre isso, mas se não soubermos agir, cobrar, fazer a nossa parte nada mudará...
Até quando ficaremos de braços cruzados?

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Cela,
Seu Blog está muito legal. Parabéns pela iniciativa. É isso aí, parar para refletir sobre estas questões e colocá-las em debate já é uma grande forma de "descruzar os braços". Nossa sociedade se encontra entorpecida. Precisamos acordar o quanto antes e mudar o rumo dessa realidade.

Marcelo Gavini, não-pensante e insistente disse...

Triste realidade, mas que pode ser mudada. Basta boa-vontade de quem realmente pode fazer alguma coisa efetiva. Pena que eles tem outros interesses conflitantes, adicionado à preguiça e à louca vontade de deixar tudo como está pra botar a culpa no mandato anterior e ganhar mais uma eleição.

Aliás, esse anúncio que você usou pra ilustrar é sensacional. O lance da foto estar de cabeça pra baixo é fantástico (só publicitário como eu presta atenção nisso, mas tudo bem... hehe).